Silvana, filha do Sr. João conta que “antigamente se pedia esmola para a festa do Divino. Saíam com a bandeira e a caixa batendo, cantando, paravam nas casas e pediam esmola. Quem não tinha dinheiro, dava o que podia, arroz, porco, galinha. Quando chegaram na casa da minha avó Inácia, ela não tinha o que dar, não tinha nada. Aí ela ofereceu o meu pai. E meu pai cresceu escutando essa história que o pai dele, meu avô, contava pra ele”.
Um dia conversando com Janete, uma das filhas do Sr. João, eu perguntei a ela sobre o mastro do Divino Espírito Santo na entrada do seu restaurante. Na ocasião, ela me disse que era sobre a história do seu pai e era uma história muito linda. Mas mencionou que eu deveria escutar sua irmã Silvana contando essa história. Antes de me encontrar com Silvana, eu participei da Festa do Divino. Voltei à minha fé de uma forma incipiente, mas muito familiar e terna.
Música: Bendito Do Divino Espírito Santo
Acompanha meus senhores a esta festividade
Sois a terceira pessoa da santíssima trindade
Meu divino espírito santo
Divino consolador
Consolai as nossas almas
Quando deste mundo for
Esta pomba vai ao céu
Vai ao céu vai ao senhor
Vai para receber as ordens
Que é do seu imperador
Transformado na mesma ave
Desceste sobre o Jordão
Onde ali foi batizado
Jesus Cristo por João
No cenáculo de Judá
Foste em ave transformado
Onde deste os dons das línguas
Aos vossos apostolados
Bate asa e canta o galo
Cantam os anjos nas alturas
Assim desce Deus do céu
Para todas criaturas
Jesus Cristo em seis dias
Fez o mundo de repente
Ele fez pedras preciosas
E água correr em vertente
O divino pede esmola
Pede não por carecer
Pede para experimentar
O que seus devotos querem ser
Deus te salve casa santa
Onde Deus fez a morada
Onde mora o cálice bento
Silvana tem quatro filhos, onze netos e dois bisnetos. Assim como Janete, ela também tem um restaurante no Quadrado de Trancoso, o Silvana & Cia. Ela conta que aprendeu a cozinhar com a necessidade, “tinha medo que meus filhos passassem necessidade. Comecei fazendo arroz doce, cocada, não achei que ia chegar a ter um restaurante, mas Deus me abençoou e eu nem sabia o que era um restaurante.” Filhos e netos trabalham no restaurante e também participam da organização e preparação da festa do Divino, assim como todos os sobrinhos.
Ela cantava com o pai no império, como é chamada a procissão do Divino. Silvana conta que mesmo que tivessem outros festeiros, o Sr. João era responsável por fazer a festa junto com o festeiro, “o império vinha da igreja para cá, daqui para lá e ia também na casa do outro festeiro. Mas o altar, chamado de trono do Divino, tinha que ser aqui na casa dele. Depois que chegou a professora aqui em Trancoso, a Dona Higina, ela sugeriu que tivesse o rei, a princesa, para que a festa ficasse mais bonita.
Antes meu pai só fazia a missa e o almoço”. Silvana relembra que não tinha padre em Trancoso e então seu pai foi para Arraial falar como Frei Miguel e combinou de realizar a festa em Trancoso. “Tanto que a festa do Divino não era no dia de Pentecostes. Porque eles juntaram as três festas para poder realizar a missa em Trancoso. Então dia 23 era a festa do Divino Espírito Santo, dia 24 a festa de São João e dia 25 era a festa de São Benedito. O dia certo mesmo era só o dia de São João. São Benedito é em abril e o Divino em maio. Isso porque o padre só vinha uma vez ao ano. Meu pai não tinha condições. Ele pedia para o pessoal que tinha condições para buscarem o padre e ele ficava aqui a semana toda”.
O almoço da Festa do Divino acontece todos os anos no restaurante SILVANA & CIA localizado no Quadrado de Trancoso.
Instagram: @silvanaeciatrancosoquadrado